Pantanal - Capricho das Águas (Valdemir Cunha)



        Dois Pantanais
        Não existe apenas um, mas dois Pantanais: o da época da seca e o da época das cheias. Apesar de se tratar do mesmo lugar, ele é transformado drasticamente pelas duas estações. De dezembro a maio a planície pantaneira é um gigantesco espelho d’água, que se estende por quilômetros e toma por refém grande parte das terras. Nessa época pode chover na região 178 bilhões de litros de água em um único dia. Isso equivale ao volume de água engarrafada vendida por ano no mundo. A partir de julho o excesso de água começa a escoar rio Paraguai abaixo, deixando para trás campos limpos repletos de pastos naturais, lagoas e corixos. É tempo de procriação e comida farta, e os animais dão um espetáculo à parte. Para que a viagem corresponda às expectativas, portanto, confira o calendário antes de fazer as malas. Mas lembre-se que, seco ou molhado, o Pantanal é imperdível.


        Quando as águas baixam
        A partir de julho explode a alegria da bicharada, que durante metade do ano ficou acuada em pequenas porções de terra seca. É possível ver centenas de espécies de animais circulando em polvorosa pelos campos verdes. Ipês roxos e amarelos enfeitam a terra seca, enquanto revoadas de pássaros multicoloridos acentuam ainda mais a beleza do cenário. Para os fazendeiros, que ocupam 80% das terras pantaneiras, é tempo de trabalhar. Com o retrocesso das águas, o gado ganha pasto e os peões podem ir à lida sem medo de atoleiros, uma verdadeira praga na época das chuvas. A Embrapa estimou que, de janeiro a abril de 2011, 2,4 milhões de cabeças de gado (pouco mais da metade do rebanho local) tiveram que ser retiradas às pressas do Pantanal para não morrerem afogadas.

       Durante a seca, a água se concentra nos rios, lagoas e corixos. Nesses pequenos oásis reúne-se a fauna pantaneira. Como essa é a época de procriação das aves, as árvores ao redor das baías transformam-se em ninhais gigantescos, que abrigam centenas de espécies de pássaros. Só o ninhal de Corutuba, no município de Barão de Melgaço, no Mato Grosso, recebe 15 mil aves todos os anos, entre biguás, biguatingas, colhereiros, cabeças-secas, tuiuiús e muitas outras. Outra atração são os peixes. Os cardumes que não conseguiram acompanhar as águas que escoaram pelo rio Paraguai, e ficaram presos em lagos e corixos, atraem todo tipo de animais, inclusive onças-pintadas, suçuaranas, jaguatiricas e sucuris. Sorte dos turistas, que têm a oportunidade de conhecer o Pantanal em seu esplendor.

       Espelhos d’água
       Em dezembro o céu do Pantanal é riscado por um emaranhado de raios e nuvens escuras. A chuva deságua sobre as terras ressequidas pelos seis meses de seca e os campos, tomados pelos espelhos d’água, viram um alagado só. Até o final de janeiro há pouco para ver, além de tempestades assustadoras e céus infinitos refletidos num mundaréu de água. Esses são meses difíceis até para quem já está acostumado porque o calor é insuportável – beirando os 40 graus à sombra – e a quantidade de mosquitos, inacreditável. Quem não quer perder o espetáculo das águas pode optar por viajar em março, quando é possível navegar pelos campos – sim, eu disse navegar – e conferir uma terra quase sem chão. Mas é bom lembrar que, nessa época, os bichos desaparecem. Até figurinhas fáceis como as capivaras se escondem. A impressão que fica é a de que não existe nada no Pantanal além de céu e água. O cenário é deslumbrante, mesmo assim. No nascer ou pôr do sol, o vermelho escarlate enche os olhos e é possível ver a paleta de cores mais impressionante do Brasil.

       Importante: o ideal é chegar ao Pantanal em abril ou maio, quando há uma mistura de cheia e seca. As temperaturas são amenas, em torno de 25 graus, quase não há mosquitos e as lagoas com água rendem belíssimas fotos. Como a terra voltou a aparecer, a bichada anda à vontade pelos campos. De qualquer forma é bom não esquecer que existem dois Pantanais, e quem realmente quiser conhecer o lugar terá que passar por lá pelo menos nas duas épocas, de seca e cheia. 

      Este texto teve referência do autor Valdemir Cunha do livro: "Pantanal - O último Éden" pela editora Origem. Quem quiser saber mais sobre o livro acesse o site da editora: www.brasilnatural.com.net

      Livro excelente retratando o cotidiano dos Pantaneiros, a lida com o gado, a linda paisagem do Pantanal, fauna e flora. Todo o livro com belíssimas fotos.

Fonte: Brasil Natural

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