Onça Pintada no Pantanal, a rainha em seu habitat natural.



      Já não sabia como justificar a resposta negativa a uma pergunta prá lá de recorrente na minha carreira de fotógrafo freelancer da NATIONAL GEOGRAPHIC: “e as onças-pintadas, tem fotografado?”

     “Bem…”, eu tentava explicar, meio constrangido, que tinha poucas imagens (nenhuma no foco), porque ainda não havia surgido uma pauta específica sobre o assunto. Não adiantava, a decepção ficava estampada no rosto das pessoas. E no meu também.


      Esta pergunta é bem natural. A onça-pintada é um animal ao mesmo tempo temido como fera e admirado pela beleza. Protagonista de histórias fantásticas, personagem central no debate ambiental. Enfim, trata-se provavelmente do maior ícone da fauna brasileira, item obrigatório na pauta de qualquer fotógrafo de natureza.

     É verdade, jamais tivera um trabalho específico com onças. Por outro lado, muitas vezes aproveitei o tempo livre de outras empreitadas no Pantanal e Amazônia para seguir no encalço delas. E houve encontros, todavia nenhum longo o suficiente sequer para ajustar o foco.

     Tempos atrás, o relato do meu pai, que acabara de voltar do Mato Grosso, dava a medida do paradoxo.

- Vi uma onça atravessando o Rio Cuiabá, meu amigo fez um ótimo retrato fechado na cara dela. Disse ele, animado.

- Com a tele, de longe? Perguntei.

- Não, com o celular. Explicou

   Silêncio…

     Dura realidade. Já tinha gente fotografando onça-pintada com o telefone e eu, autointitulado especialista no ramo, nada tinha registrado do animal além de uma coleção de retratos de foco capenga.

     A chance de redenção surgiu em setembro passado, finalmente. Viajei ao próprio rio Cuiabá com o cinegrafista Lawrence Whaba. Nosso objetivo: fotografar onças, e só. As chances pareciam muito boas. Vários barcos procurando, aparições frequentes, era o momento. Ajeitei minhas Nikons D3 e objetiva de 500mm na mochila e parti confiante.

     Felizmente, após uma semana no local as boas expectativas se confirmaram. Apesar do susto logo no primeiro dia, que passou em branco, sem uma avistagem sequer, nos demais não deixamos de vê-las. E algumas toleraram nossa presença por horas!

    Fiquei contente. Não que tenha feito um trabalho a altura de contar a história e trazer toda a emoção de estar cara a cara com esse animal notável, em seu ambiente natural, comportando-se normalmente, indiferente às ameaças da proximidade com o ser humano. Não, isso ainda não. Mas agora tenho bons retratos nítidos e uma resposta mais adequada diante daquela pergunta de sempre. No mínimo, ela reflete melhor a minha admiração e respeito pelas onças.



















Fonte: National Geographic Brasil
fotos: Luciano Candisani 

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