
O dia começa às 6h para o pessoal da Nhumirim, onde o horário de verão não é aplicado pois o uso da energia elétrica já é racionado. Na quinta-feira (8), o café da manhã tinha o tradicional pão com manteiga, café preto e uma farofa para dar sustança na lida até o horário do almoço, que é das 11h às 12h. Depois da primeira refeição do dia, os pesquisadores vão a campo checar as armadilhas que capturam animais silvestres para estudos e a peonada vai a campo manejar o gado. Na volta da lida, eles almoçam e, na garagem da Fazenda Nhumirim, fazem a tradicional roda de tereré (vídeo abaixo).
Seus afazeres incluem atividades como levar o gado para o mangueiro próximo à sede da fazenda, tocar um lote para outra invernada para evita a superlotação de unidade animal por hectare, observar e tratar animais machucados, renovar água, fornecer suplementação como sal mineral, curar o umbigo dos bezerros, entre outros. Os peões estão sempre na companhia dos cavalos da tropa da Fazenda Nhumirim, formada toda por Cavalos Pantaneiros, que assim como o tucura, foi selecionado pelas condições do Pantanal e formou uma nova raça, que descende de cavalos ibéricos e árabes.
Nas invernadas, matrizes nelores à espera da IATF, o tucura, ou boi pantaneiro, e até nelore vermelho se misturam com animais silvestres nas pastagens nativas. É muito comum observar que, não raro, o boi divide seu pasto com veados campeiros, por exemplo.
Alimentação
O homem pantaneiro não tem a cultura do plantio, ou seja, alimenta-se muito pouco de frutas, verduras e legumes. Pomares e hortas não são a prioridade para a população local. “O pantaneiro gosta de arroz, feijão, mandioca e carne”, simplifica a pesquisadora Raquel Soares, da Embrapa Pantanal. “E a mandioca às vezes vem da cidade, congelada”, completa.

Aos domingos, a diversão do pantaneiro é a caça de porco monteiro logo pela manhã. “Uma vez eu fiz uma apresentação para uma senhora e mostrei a foto de um pantaneiro montado num porco monteiro. Ela achou um absurdo a caça e eu perguntei: “a qual distância a senhora está de um quilo de carne? Provavelmente no mercado da esquina tem. Aqui ele está a 150 km de um açougue”, contextualiza a pesquisadora Raquel, da Embrapa Pantanal. “Quem é urbano tem um conceito diferente de sustentabilidade. Para ele, sustentabilidade é reciclar garrafa pet, fazer xixi no banho... Aqui nós temos é de melhorar o uso econômico das espécies nativas para preservá-las. E o pantaneiro tá fazendo isso muito bem porque ele respeita. Ele viu que a natureza é um fator limitante”, explica Raquel.
Coração de Pedra e Pássaro Branco

Ética pantaneira
Dentro do Pantanal, a população local tem de se ajudar. Acostumado a passar por situações difíceis, como ter de atravessar uma ponte caída colocando tábuas pouco firmes para o seu caminhão passar, Airton afirma que há uma espécie de compromisso entres os moradores da região. “Se eu tiver atolado, os peões quem vêm com o próximo carro já descem um com uma pá, outro com pedaço de pau, outro com a enxada e me desatolam. Já aconteceu de eu furar um pneu, colocar na caçamba e ele cair. Perdi o pneu. Depois veio um amigo me oferecer um aro que ele achou. Então eu disse que era meu e ele veio até aqui na fazenda devolver. Aqui é assim”, ensina Airton.
O homem pantaneiro também faz parte da emergia daquela região. Quando a população faz uso dos recursos disponíveis e com responsabilidade, torna possível a renovação do ciclo e a sustentabilidade, diz um dos materiais de apoio do projeto “Construção da Imagem da Pecuária Sustentável do Pantanal”, da Embrapa Pantanal.
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