A lida do Homem Pantaneiro - Fazenda Nhumirim


 Quais são os hábitos do homem que vive no meio do Pantanal? Qual é sua rotina e qual a principal fonte de alimento? Na última semana, nos dias 7, 8 e 9 de novembro, a Rural Centro, visitou a Fazenda Nhumirim, a 120 km de Corumbá, MS, a convite da Embrapa Pantanal. No meio da Nhecolândia, sub-região do Pantanal, nós pudemos observar e viver um pouco dessa rotina. 

      O dia começa às 6h para o pessoal da Nhumirim, onde o horário de verão não é aplicado pois o uso da energia elétrica já é racionado. Na quinta-feira (8), o café da manhã tinha o tradicional pão com manteiga, café preto e uma farofa para dar sustança na lida até o horário do almoço, que é das 11h às 12h. Depois da primeira refeição do dia, os pesquisadores vão a campo checar as armadilhas que capturam animais silvestres para estudos e a peonada vai a campo manejar o gado. Na volta da lida, eles almoçam e, na garagem da Fazenda Nhumirim, fazem a tradicional roda de tereré (vídeo abaixo).



Seus afazeres incluem atividades como levar o gado para o mangueiro próximo à sede da fazenda, tocar um lote para outra invernada para evita a superlotação de unidade animal por hectare, observar e tratar animais machucados, renovar água, fornecer suplementação como sal mineral, curar o umbigo dos bezerros, entre outros. Os peões estão sempre na companhia dos cavalos da tropa da Fazenda Nhumirim, formada toda por Cavalos Pantaneiros, que assim como o tucura, foi selecionado pelas condições do Pantanal e formou uma nova raça, que descende de cavalos ibéricos e árabes.

      Nas invernadas, matrizes nelores à espera da IATF, o tucura, ou boi pantaneiro, e até nelore vermelho se misturam com animais silvestres nas pastagens nativas. É muito comum observar que, não raro, o boi divide seu pasto com veados campeiros, por exemplo. 

Alimentação
     O homem pantaneiro não tem a cultura do plantio, ou seja, alimenta-se muito pouco de frutas, verduras e legumes. Pomares e hortas não são a prioridade para a população local. “O pantaneiro gosta de arroz, feijão, mandioca e carne”, simplifica a pesquisadora Raquel Soares, da Embrapa Pantanal. “E a mandioca às vezes vem da cidade, congelada”, completa.

Convidada para a visita à Fazenda Nhumirim, a coordenadora do curso de Agronomia da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Rúbia Renata Soares (de branco na foto à esquerda), observou que as condições da terra no Pantanal são propícias para o cultivo de quaisquer culturas que proliferam no nordeste, como caju, pinha e coco, acerola, por exemplo. A ideia da doutora em agronomia é educar as crianças para que elas possam mudar o pensamento quando tiverem suas famílias. “O adulto você não vai conseguir mudar, mas é possível com as crianças”, argumenta.
      Aos domingos, a diversão do pantaneiro é a caça de porco monteiro logo pela manhã. “Uma vez eu fiz uma apresentação para uma senhora e mostrei a foto de um pantaneiro montado num porco monteiro. Ela achou um absurdo a caça e eu perguntei: “a qual distância a senhora está de um quilo de carne? Provavelmente no mercado da esquina tem. Aqui ele está a 150 km de um açougue”, contextualiza a pesquisadora Raquel, da Embrapa Pantanal. “Quem é urbano tem um conceito diferente de sustentabilidade. Para ele, sustentabilidade é reciclar garrafa pet, fazer xixi no banho...  Aqui nós temos é de melhorar o uso econômico das espécies nativas para preservá-las. E o pantaneiro tá fazendo isso muito bem porque ele respeita. Ele viu que a natureza é um fator limitante”, explica Raquel.

Coração de Pedra e Pássaro Branco
Esses são os nomes dos dois caminhões que trabalharam com o “seo” Airton, motorista da Embrapa Pantanal que reside "há 25 anos e três meses na Fazenda", responde ele rapidamente. Nos primeiros 20 anos, Airton trabalhou com “Pássaro Branco”, um vigoroso caminhão na cor branca que o acompanhou de 1986 a 2006. Desde então, o caminhão é Coração de Pedra, cuja história do nome é explicada por Airton. “Eu dei uma carona pra uma mulher uma fez e tava tocando meu ‘sonzão’ que eu tenho nele (no caminhão). Aí eu toquei uma música do Bruno e Marrone, chamada “Coração de Pedra” e ela pediu pra eu repetir umas três vezes. Aí coloquei esse nome nele”, conta o motorista.

Ética pantaneira
Dentro do Pantanal, a população local tem de se ajudar. Acostumado a passar por situações difíceis, como ter de atravessar uma ponte caída colocando tábuas pouco firmes para o seu caminhão passar, Airton afirma que há uma espécie de compromisso entres os moradores da região. “Se eu tiver atolado, os peões quem vêm com o próximo carro já descem um com uma pá, outro com pedaço de pau, outro com a enxada e me desatolam. Já aconteceu de eu furar um pneu, colocar na caçamba e ele cair. Perdi o pneu. Depois veio um amigo me oferecer um aro que ele achou. Então eu disse que era meu e ele veio até aqui na fazenda devolver. Aqui é assim”, ensina Airton.
O homem pantaneiro também faz parte da emergia daquela região. Quando a população faz uso dos recursos disponíveis e com responsabilidade, torna possível a renovação do ciclo e a sustentabilidade, diz um dos materiais de apoio do projeto “Construção da Imagem da Pecuária Sustentável do Pantanal”, da Embrapa Pantanal.



Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro


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